A proposta desesperada e disfarçada, que apresenta, em traços gerais consiste em que o Banco libertasse imediatamente €100.000 a cada cliente e 20% do capital do grupo a ser distribuído aos clientes. Faltou dizer em que proporções e a forma de cálculo de tal distribuição. Mas esta suposta
benesse pode conter contornos de loucura pós-traumática, visto que a marca BPP, morreu. Isso é um facto. Ou seja, os títulos deste Banco em concreto valem, talvez... Zero. Acrescente-se a liquidez da acção que diferente de zero, é nula.
Numa primeira fase houve uma tentativa de passar para a opinião pública de que se tratava do Banco dos ricos, é certo, que o vulgar
Zé Mané não tinha lá a sua conta bancária, mas ir por essa via é uma enorme falácia.
Muitos sucumbiram aos anúncios em letras douradas, principalmente, na revista do Expresso. Era o Banco que tratava o seu dinheiro como ninguém, que valorizava o não-sei quê e por aí adiante. O marketing da sedução.
Descontando estes fait-divers os clientes do BPP, têm razão quando dizem estar a ser discriminados pelo Estado em comparação com os clientes do BPN. Tinha de haver um BPN para chatear.
Pois os referidos produtos de retorno absoluto, existiam nos dois bancos, tal como em todos. Técnicamente chamam-lhe produtos estruturados e o seu desenho financeiro é composto por fórmulas matemáticas algo complexas, com integrais duplos, permissas de if...then, misturados com depósitos a prazo. São mix's. Julgo até, que quem os desenha não os compreende profundamente.
Na práctica após o produto estar subscrito os
running-boys deste tipo de banca investem em tudo o que lhes parece rentável. Se fizessem um fundo que apostasse nas putas da recta de Coina que apresentasse um Tier 1, cash-flow sólido e rentabilidade semi-assegurada, ali seria investido muito dinheiro de incautos depositantes. Como é que não me lembrei disto? De Coina...
O argumento do governo, é o
risco sistémico. E o que é isto?
No caso concreto, apesar de o BPN ser um pequeno Banco, é um banco de retalho, generalista, com depósitos, créditos a particulares e empresas. A sua falência provocaria o
calcanhar de Aquiles da banca, o levantamento em massa pelos clientes do dinheiro depositado nos Bancos. Seria a ruína do sistema, pois não há nenhum Banco capaz de pagar de volta o dinheiro depositado pelos seus clientes, num repente.
O BPP, apenas geria pequenas, médias e grandes fortunas, que com a crise e o fecho da torneira de crédito no sistema inter-bancário asfixiou rapidamente.
Os tais produtos de retorno absoluto, não têm nada de retorno, apenas a capacidade dos seus gestores e a confiança do próprio Banco. Essa quando é desfeita - a confiança - é que não tem retorno, nem absoluto, nem parcial.
Quando este Governo, na sua
política de cabana, salva um Banco e deixa cair outro, mostra a sua fibra. Ou seja, quando usa o argumento dos queridos contribuintes, diz, desde que não sejam melindrados os interesses dos galifões que o suportam, está tudo bem. Salvaguardando certos e determinados interesses, esses mesmos queridos contribuintes que se desenrasquem. Estão aí os eficazes tribunais nacionais. Dito à porta de uma garagem vestido de uma suposta coragem vendida à comunicação social que come tudo.
O mesmo Estado que depois de informado por uma das suas agências noticiosas, o Tribunal de Contas, que em cinco grandes obras públicas a derrapagem orçamental cifrou-se à volta dos €240.000.000. Dava para comprar dois Ronaldo's e meio a preço de mercado actual. A sorte neste País é que se pode culpar o governo anterior, síndrome siamês - PS/PSD. E responsabilidades, tá quieto!
No caso BPP; governo, galifões e alguns outros com acesso a canais de informação preveligiados, safaram-se. O elo mais fraco, o mesmo que dizer, o resto dos clientes, que se desenrasquem.
Num País, que se auto-proclama de Primeiro Mundo, em que fundar um Banco não está propriamente ao alcance do Zé Mané acima descrito, pois tem de haver garantias e uma série de requisitos formais que o Estado tem por dever de supervisionar. Logo, por mais voltas que Vítor Constâncio dê, o Banco de Portugal tem responsabilidades nesta matéria. Apesar da fuga em frente e à espera de ver no que dá. Estratégia também seguida pelo governo.
Como o dinheiro não se materializa, e eu já o tentei, materialize-se o espírito do Rei Salomão para uma decisão Salomónica. É uma proposta tão válida como outras.