Vivemos acima das possibilidades. Este é o mantra repetido vezes sem conta, pelo main-stream da actualidade, desde políticos, jornalistas séniores a comentadores que pululam pelos media a fabricar opinião, levando ao conformismo das pessoas e de que a austeridade é o único caminho a seguir, pois vivemos acima das nossas possibilidades. Todos os dias este mantra é repetido, fazendo com que as pessoas acabem por aceitar de que também são culpadas.
Ora o que na verdade ocorre, é que tudo isto é um enorme logro, mentira e roubo ao património das populações.
No caso português, o que de facto ocorre, é que a maioria da população faz das tripas coração para se manter dentro das possibilidades da dignidade, em média, com pouco mais de 600 ou 700 euros vão tratando de suas vidas e dos seus.
Matam-se a trabalhar num país, onde as "jornas" de trabalho são das mais longas da União Europeia, na correspondente directa, de infelizmente, termos os políticos e gestores mais incompetentes da União, na óptica do interesse público, pois para si e para os seus accionistas são competentíssimos.
Ou seja, o que acontece um pouco por toda a Europa e em Portugal é por demasiado evidente - por ter um povo mais amorfo e mais fácil de subjugar - são que as minorias que vivem de facto acima das suas possibilidades retiram rendimento das maiorias que vivem abaixo das possibilidades em que deveriam viver. É o problema da distribuição dos rendimentos nacionais que cada vez está mais distorcida e em Portugal esta não distribuição é gritante, pode-se dizer mesmo que é criminosa.
O governo que deveria representar o país, é demasiadamente fraco no contexto internacional e completamente dependente dos grandes grupos económicos e financeiros. A margem de manobra que têm é mínima e apenas passam as orientações que recebem de quem tem o dinheiro e o poder de criá-lo.
Em Portugal, por exemplo, chega a ser desesperante ver esses dois representantes - Passos Coelho e António José Seguro - que por via política incumbe-lhes a aplicação e comunicação da austeridade. São figuras inócuas, parecem máquinas que dizem o politicamente correcto, conforme os ventos que sopram do dia.
Por outro lado, num jogo maior e não entrando em teorias de conspiração rebuscadas, fica evidente de que esta crise tem uma Agenda.
Quando em 2002 criou-se o Euro os países europeus da zona euro conseguiram recorrer a todo o crédito possível e impossível por "beneficiarem" de notações de rating elevadas. Permitiu por um lado aos políticos mais corruptos venderem os seus poderes de decisão, como por outro lado, as grandes empresas colocarem "os seus políticos" em posições chave na decisão.
A suposta Agenda continua o seu processo, de país em país, passando agora para uma fase em que se pisam as leis e normas em vigor, desrespeitam-se acordos laborais e de empresa unilateralmente, reduz-se o rendimento anual dos cidadãos e aumenta-se a escravização laboral.
Começam a haver mudanças de governo sem eleições por imposição dessa coisa que não tem rosto, os mercados internacionais.
Governos tecnocráticos, ou melhor, funcionários dos grandes conglomerados que operam nos tais ditos mercados.
Na Grécia, Georges Papandreou foi substituido por Lucas Papademos que fora o governador do Banco Central Grego que em conjunto com o Goldman Sachs "ajudou" a Grécia a falsear as contas da dívida soberana.
Na Itália, Berlusconi por Mario Monti que já esteve ligado ao Goldman Sachs, bem como Mario Draghi recentemente eleito presidente do Banco Central Europeu.
Tudo boa gente! Como se vê!
As pessoas têm de ter a real noção do que enfrentamos. Berrar contra os funcionários, até pode ser engraçado mas, de pouco vale, porque o verdadeiro inimigo dos povos tem um stock imenso de funcionários prontos para a reposição.
Publicado em simultâneo no Cheira-me a Revolução!