terça-feira, 1 de setembro de 2009

Endividamento mórbido


O actual governo celebrou moderadamente uma ténue retoma da economia, uma inflexão da crise está a decorrer, segundo a sua máquina de propaganda tenta passar.
Ora o que está a ocorrer, é aquilo que na gíria do meio financeiro se denomina "a torneira do crédito" está lentamente a voltar-se a abrir. Muito desse financiamento não passa pelas contas públicas, entrando via banca privada.
Esta crise serviu para destapar a careca de Estados aparentemente desenvolvidos, como por exemplo a Islândia ou a República da Irlanda, Portugal que sempre esteve em crise desde a sua fundação, soma a esta crise, a crise endémica que sempre se viveu por estas bandas.
Este novo fluxo teve o condão de estimular o consumo interno e daí, a aparente retoma. O suposto mérito do governo é igual a zero.
Estas faltas de honestidade política, por parte dos dois partidos de alterne do poder, passam com alguma facilidade no povo português.

Desde os anos 90, Portugal tem vindo paulatinamente a desmantelar a sua capacidade produtiva, com a habitual desculpa das directivas da outrora C.E.E. e actualmente a U.E., quando o que se trata, são acordos mal geridos e daí talvez não, porventura, servir outros interesses que garantam empregos compatíveis com níveis de vida mais faustosos, sem esquecer interesses obscuros de sociedades secretas, que à luz da lucidez, apenas são agrupamentos infantis de graves distúrbios mentais e emoções mal trabalhadas, principalmente o medo, o medo de perder algo adquirido tanto material ou estatutário.

Antes da moeda única, a ferramenta da política do "empurra para frente" era a desvalorização da moeda. Após 2002 foi o endividamento, só que aqui contaminando os particulares.
Nessa altura começaram a aparecer as para-financeiras; Cofidis, Credibom, Credifin, entre outras. Verdadeiros "braços armados" de grandes grupos financeiros.
Num povo com elevados índices de manipulação, da alegria do carro novo e das férias de sonho ao descalabro foi um instante. Agora o frigorífico está estragado e a mobília do quarto da Kátia Vanessa está assim um bocado para o encardido.

Num País onde quem legisla, escolhe. Quem legisla, legaliza crimes. Quem legisla, promove monopólios. Em suma, na área legislativa, Portugal é um campo virtualmente minado.

A par desta evolução meteórica para o fundo, houve uma clara aposta na captação de investimento estrangeiro. Só que esse investimento, era em áreas que recorriam ao uso intensivo de mão-de-obra, onde a robótica ainda não preenche todo o processo produtivo e necessita em alguns pontos no seu processo produtivo da intervenção humana. Pode-se dizer que se reajustou o emprego à qualidade dos recursos humanos e ao I&D luso. Aposta que quem a fez sabia muito bem que seria temporária, pois outros mercados despontariam. Aqui de duas uma, ou pura má fé ou óbvia incapacidade de visão estratégica.
Pois este tipo de empresariado baseia-se única e exclusivamente nos custos de pessoal. São as empresas "sanguessugas", que agora e depois de usufruirem de muitos benefícios estatais, com todo o desplante deslocam-se para países onde esses custos são mais baratos.

Apesar de tudo isto o alterne poder PS/D continua a empurrar com a barriga bem cheia os problemas para a frente. Uns apostam no aumento do endividamento a atingir se não ultrapassar os níveis do absurdo, será mesmo, eticamente criminal. Outros em cortar em tudo e mais alguma coisa.

Quando a aposta nacional, deveria ser naquilo que está certo e mais simples de fazer. Lógica e bom senso na actuação governativa. Compreender os nossos problemas e actuar em conformidade, maximizando todos os nossos recursos a vários níveis.
Mas, ao que parece, isto é qualquer coisa de transcendental para estas cabecinhas pensadoras - o saber fazer as coisas certas.

Resumindo, caracterizando o País, Portugal na sua ilusória modernidade, já veste um fato Armani mas com as cuecas cagadas.



Publicado em simultâneo no Cheira-me a Revolução!

3 comentários:

mugabe disse...

Zorze, nenhuma revolução se defende com flores. A nossa foi porreira, deu uma imagem de bons meninos, mas infelizmente as revoluções defendem-se na porrada, não há outra maneira perante a ferocidade do imperialismo/capitalista.

Abraço!

Diogo disse...

É quem manobra "a torneira do crédito" que regula a prosperidade ou a pobreza. São eles os proprietários da política e dos media. São eles que mandam e possuem. São eles o cavalo a abater.

casadegentedoida disse...

A desgovernação é total, eles colocam os interesses pessoais e partidários em primeiro lugar. Se quiserem podem fazer bem e as vezes até fazem depois de estarem cheios.
Saudações.