domingo, 19 de dezembro de 2010

Vejam bem


À porta da igreja, os mendigos estendem a palma das ilusões e dos sonhos que outrora tiveram. A vida é cruel.
Eu não dou esmola. Eu não sou caridoso. Não alimento um sistema monstro. A caridade é o resultado da falha do sistema e dar é manter essa condição.

Vejam bem...
O mundo que "ajudaram" a criar é o mesmo por que se torçem e gritam.
Cada um, tem a sua quota-parte, de responsabilidade. Uns mais que outros... Tal como nas crises, pagam mais os que menos responsabilidade tiveram, em porções desproporcionais.

A colectividade protege o seu amor-próprio, se um grande número de pessoas , escreve Freud na Psicologia Colectiva e Análise do Eu, se juntam à volta de um mesmo ideal do Eu, isso reforça as suas esperanças arcaicas. Por esperanças arcaicas, Freud entendia esse amor por si próprio que é transmitido a toda a criança pela mãe, e que se traduz, geralmente, pela palavra narcisismo.

Em patologia, viemos à vida humana para sermos felizes, amar e ter prazer. Quem ama não sofre. O que faz sofrer é o desamor, a patologia do ódio ou dos caprichos. Quem ama de facto, não reivindica, não censura nem vive na insegurança dos ciúmes ; compreende, perdoa sempre, renuncia com alegria, harmoniza, pacifica e beneficia.

Vejam bem...
A macacada, excitada e de pêlos no ar, vestidos de poder; temporários e empregados, do alto da cadeia alimentar, um dia - quando despertarem - percepcionarão quem lhes comanda a consciência ética, não são nada.

Veja bem...
Enquanto um homem passa fome e um cão é abandonado depois de acarinhado e tratado, após de não satisfazer o lado negro humano. Atirado ao vento e à sua sorte...A humanidade não é sinónimo de bondade, mas sim, algo que ofereça algo do seu interesse.
A fronteira de as pessoas deixarem de ser pessoas e passarem a ser selvagens, é muito ténue, quase invisível e num instante fugaz.

Vejam bem...
Ser social polarizador seguro e assumido das reivindicações justas. Mais forte afectivamente e detentora de sentimentos elevados, já dominadores das emoções superficiais e vulgares.

Vejam bem...
No relativo à comunicação, o telefone, inventado em 1876, catalisou a comunicabilidade interpessoal e dessa , a inteligência evitadora da idolatria consentida, da divinização permitida pela demagogia política e lavadora de cérebros. Aquela que diz, que os meus mortos são mais justos que os teus, independentemente das manchas de sangue que percorrem nas suas palmas.


Zeca Afonso - Vejam Bem

Publicado em simultâneo no Cheira-me a Revolução!

5 comentários:

Jorge disse...

Zorze, nem mais !

Abraço.

Pata Negra disse...

Mobilização em vez de caridade! Compreendo que o alheamento das pessoas na análise das causas e soluções mais profundas lhes sugira o abrir de uns trocos mas não perdoo que um país inteiro vá no barco dos arredondamentos e das popotas do homem mais rico do país e um dos mais ricos do mundo. Caridade ainda vá que não vá, agora pelas mãos do Azevedo?!
Dum pedaço do teu grande texto, limito-me a este pequeno comentário e estendo-o a um grande abraço sem caridade

Diogo disse...

Eu faço uma transferência mensal (dentro das minhas possibilidades) para uma organização que ajuda os sem-abrigo. Tenciono também a dedicar algumas sextas-feiras a distribuir essa ajuda pessoalmente.

Simultaneamente, preparo-me para dar umas valentes bofetadas a uns gajos que eu cá sei.

Penso que revolução e ajuda aos que caem em desgraça não são incompatíveis.

Abraço

Pata Negra disse...

Amor e Boas Festas todo o ano e pelo corpo todo!

casadegentedoida disse...

Só passei para te desejar um Feliz Natal.
Abraços.