Há poucas semanas atrás a multinacional checa Bata que se dedica à comercialização de calçado, anunciou que se vai retirar de Portugal.
A companhia fundada por Tomas Bata em 1894 na cidade checa Zlin na antiga Checoslováquia, atravessou o séc. XX e mantém-se no séx. XXI em todo o seu fulgor. Hoje é uma multinacional presente em cerca de 70 países com mais de 5.000 lojas e aproximadamente 30.000 trabalhadores.
Nos dias de hoje, em que assistimos diariamente a encerramentos de fábricas, empresas e lojas, consequência directa de insolvências, falências, deslocalizações e algumas vezes de forma fraudulenta sob uma capa de legalidade, num sistema judicial fraco para os fortes e forte para os fracos, sistema judicial português esse, cada vez mais desigual no acesso e cada vez menos justo na aplicação da lei.
Não sendo um caso diferente do dia-a-dia económico/industrial português, infelizmente, é no comunicado da casa-mãe desta multinacional, que fica espelhado em poucas linhas a realidade económica portuguesa, totalmente contrária à linha comunicativa do governo português, que vive uma mistura de ficção teórica comunicativa e realidade social aplicada resumida em gráficos Excel.
Assim, ao contrário da filosofia de comunicação do governo português - que diz uma coisa e pratica outra - que enche os seus comunicados até à exaustão os cliques bordão, tais como; é o único caminho, crescimento económico, medidas contra o desemprego, o caminho certo, recuperar a confiança, as medidas necessárias e por fim, atrair investimento estrangeiro, vem a realidade objectiva de uma empresa estrangeira a operar na economia portuguesa que já tinha puxado a corda da exploração até aos limites, note-se que para os empresários em geral o lucro é sempre pouco, as lojas da Bata funcionavam actualmente com um trabalhador por turno, o que leva a questionar para é que existe uma entidade que dá pelo nome de Autoridade para as Condições de Trabalho - ACT ?
Diz a Bata constatando a realidade - " o clima económico no país, tornou-se extremamente difícil, deteriorando a confiança dos consumidores bem como o seu poder de compra, o que tornou impraticável a continuação da Bata em Portugal, como vinha acontecendo até aqui ".
E é nesta pescadinha de rabo na boca que o governo português fica surpreendido quando afere que a receita fiscal diminui e o défice publica aumenta.
Reduzindo o rendimento das famílias, as empresas vendem menos e a indústria produz menos. É a espiral recessiva negativa que o actual governo colocou o país, aliás, fruto de um elenco na economia e nas finanças, brilhantes académicos e teóricos, mas muito fraquinhos na capacidade de visão da realidade de um país em contexto global.