quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Percepção


Em Janeiro de 2007, numa manhã fria em Washington D.C., um homem com um violino toca seis peças do compositor Johann Sebastian Bach durante 45 minutos, numa das estações do metro de Washington mais movimentadas, passam por ele, aproximadamente 2.000 pessoas, a maior parte delas a caminho do seu trabalho.

Após 3 minutos, um homem de meia-idade repara que estava ali um músico a tocar, abrandou a sua marcha e depois continuou o seu caminho.
Ao fim de 4 minutos, recebe o seu primeiro dólar, uma mulher atirou o dinheiro para o chapéu, sem parar a sua marcha.
Aos 6 minutos, um homem parou durante uns segundos, em seguida, olhou para o relógio e continuou a andar.
Aos 10 minutos, uma criança de 3 anos parou, mas a sua mãe rapidamente o puxou. A criança de vez em quando olhava para trás para observar o violinista. Esta acção repetiu-se mais algumas vezes com outras crianças com os pais que as acompanhavam - sem excepção - a forçarem o andamento.
Passados 45 minutos, o músico continuava a tocar. Só 6 pessoas pararam para ouvir um pouco da música que tocava, cerca de 20 deixaram dinheiro sem parar de andar. Dentro do chapéu foram recolhidos 32 dólares.
Passado uma hora e ao acabar de tocar, ninguém reparou, ninguém aplaudiu. Não houve qualquer tipo de reconhecimento.

Ninguém sabia, mas o violinista era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo. Ele tocou várias peças musicais de complexidade elevada, com um violino avaliado em 3.5 milhões de dólares. Dois dias depois, num espectáculo com lotação esgotada em Boston, com o preço médio do bilhete a rondar os 200 dólares, tocou as mesmas músicas.
Tocou incógnito na estação do metro, em plena hora de ponta de Washington. A situação foi organizada pelo jornal Washington Post, como parte de uma experiência social sobre percepção, gosto e prioridades das pessoas.
Esta experiência trouxe várias questões:
- Num ambiente comum, a uma hora inapropriada, percebemos a beleza?
- Se sim, não paramos para a apreciar?
- Reconhecemos talento num contexto inesperado?

Leva-nos a concluir, talvez...
Se não temos "um momento" para parar, ouvir, ver e sentir a beleza das coisas, num sentido muito lato da sua essência...
Quantas outras coisas, nos estarão a passar ao lado, enquanto semi-vivemos, estas vidas robotizadas, com percentuais muito baixos de consciência?

2 comentários:

Camolas disse...

Bué delas. Chama-se consciência a essa percepção da beleza.
No dia em que entrámos no Outono ninguém deu por isso , não é uma tristeza???

Bandido disse...

Meu caro Zorze
Li algures que a beleza é encontrada onde tu tiveres desperto para esse encontro. Eu concordo em muito com isso.
Quantas vezes não te sentes tocado ao visualizar, ouvires e/ou percepcionares determinada coisa que estás "farto" de ver/ouvir/... $
A mim acontece-me isso frequentemente, com a particularidade de ver ou ouvir de prismas diferentes a mesma situação.

Saudações Chaladas