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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O Grande Bazar


"Em Portugal, só há um Presidente da República, um primeiro-ministro e dezasseis ministros. Mas, apenas em 1992, os respectivos gabinetes compraram 32 BMW série 7, 30 Renault 25 BXI, 80 Citroën XM e 10 Mercedes 560 SL - la crème de la crème. A austeridade, como se vê, começa por cima e espalha-se como um polvo: há 22.300 carros ao serviço do Estado, sem contar com autarquias e empresas públicas. Quem disse que somos um país pobre?"

Escrevia isto José Vegar num artigo com fotos de Miguel Carvalho e Silva em Janeiro de 1993 - há 19 anos atrás - na revista mensal Grande Reportagem, revista que desapareceu pelo facto de ser incómoda e pela sua assertividade à época, num país que tinha apenas dois canais públicos de televisão, altura em que começavam a nascer as televisões privadas.

O artigo começa por contar a história de um jovem advogado, que tinha aceite desempenhar funções numa nova secretaria de estado e que chegou à conclusão de que precisava de um carro para as suas actividades. Por entre várias direcções do estado à época, nas quais se destacavam a Direcção de Serviços de Veículos do Estado (DSVE), dependente da Direcção-Geral do Património (DGP), o artigo conta como o pujé através de várias sindicâncias e cunhas lá conseguiu obter o seu carro de serviço, num quase sistema de contabilidade em "cima do joelho".

O artigo também refere onde se situava esse museu secreto do carros do Estado, ficava em Alcântara, sem nenhuma placa identificativa. Guardava os automóveis do Estado português, chamavam-lhe o museu, só não estavam lá os 15 Rolls-Royce e Bentley que em 1976 foram guardados na Gomes Teixeira (o edifício da Presidência do Conselho do Conselho de Ministros). Contava um ministro da altura: "Eles (os Rolls e os Bentleys) estiveram na garagem durante muito tempo. Depois desapareceram... Até hoje ainda não encontrei alguém que saiba qual o destino dos carros".

Informava também, o artigo da "Grande Reportagem", que os próprios custos de um automóvel não eram contabilizados individualmente. Entravam directamente na rubrica "Aquisição de bens e serviços". O Orçamento de Estado para 1993, dava 121 milhões de contos (não são euros!) à administração pública para as referidas aquisições, 3,7% do OE, só superado pelas despesas com o pessoal. Brutal, anti-ético e criminoso, tal o forrobodó.

Isto em 1993, imagine-se a escalada, nos anos posteriores. Este regabofe referido, cinge-se apenas, aos automóveis do Estado, imagine-se todo o resto.
É esta gente, que se passeia e cirandou, nos governos de Cavaco, Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes, José Sócrates e actualmente Passos Coelho, que através das rádios, televisões e jornais, tentam formar a ideia de que vivemos acima das nossas possibilidades e de que é necessário fazer sacrifícios.

Num país, que sempre viveu no anátema dos salários baixos e na exploração do factor de produção do trabalho. Onde os génios de economia da merda nacionais, quando falam de competitividade, só falam em salários, quando esse factor de produção representa menos de 1/5 dos custos de produção. Portugal com os gestores da merda que tem, tanto públicos, privados e políticos, não vai lá. Afundam, em velocidade alarmante, a fraca economia portuguesa, ao mesmo tempo, totalmente incapazes de competir com um mundo em rápida evolução.
Políticos e empresários na sua maioria incompetentes a vários níveis. Figuras de topo no Estado a trabalharem uns contra os outros. Uns a brincarem aos 007's, outros em conspiraçõezinhas de clubes Amigos Disney meio secretos, outros a meterem cunhas e influências em negócios e cargos públicos.

Este como outros, o governo, não governa para a população, governa para quem o patrocina (como prenda, as privatizações que aí virão).
Este governo não gosta dos portugueses, e os portugueses não gostam dele.
Tal facto fica evidenciado hoje, quando habitualmente, os subsídios de desemprego são pagos entre o dia 10 e 15 de cada mês, vem o governo anunciar que este mês só vai pagar a referida prestação no dia 22, após o carnaval. É maldade pura, quando se aproxima o fim-de-semana, propício à reunião familiar.
Se não têm dinheiro, assumam! Se não, é pura ruindade, má-vontade, ressabiamento e assumpção de um Estado incumpridor, vergonhoso no mínimo... pela manifesta incapacidade de sensibilidade social.

Publicado em simultâneo no Cheira-me a Revolução!

2 comentários:

  1. «quando habitualmente, os subsídios de desemprego são pagos entre o dia 10 e 15 de cada mês, vem o governo anunciar que este mês só vai pagar a referida prestação no dia 22, após o carnaval. É maldade pura…»

    Todos os dias há uma «boa» surpresa para o país. É mais que tempo de começarem a ser eles, os ladrões e os corruptos, a sofrer sobressaltos inopinados…

    Abraço

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  2. Cada vez mais encontramos situações de aproveitamento dos bens do Estado em proveito próprio. Gastar desmesuradamente o dinheiro dos contribuintes parece ser o grande objectivo desta maralha de politicos corruptos, aproveitadores, enganadores, usurpadores,ladrões que possuem um diploma passado por uma faculdade qualquer, onde basta pagar para o obter. Penso que desde à uns anos a esta parte as universidades portuguesas, em áreas como Economia, Gestão, Direito, Engenharia, tem formado muitos ladrões. Sim, ladrões, apesar de atenderem por outros nomes, o que eles aprendem é a utilizar manhas e artimanhas para o auto-enriquecimento. Mas o Povo também é culpado, basta acenar-lhes com umas cenouras e vão logo atrás.
    Quando o Povo souber pensar pela própria cabeça e não pela cabeça de alguns, talvez venham a agir de forma a não permitir a entrada dessa escumalha na politica. Como? Já Saramago deixou a receita num seu livro: "Voto em Branco". Todos em branco. Assim mostramos a nossa insatisfação e ninguem é eleito.
    Quando a fantasia se torna realidade é complicado. Lembras-te do Ali Babá e os Quarenta ladõres? Agora os quarenta já se multiplicaram muitas e muitas vezes.
    Isto é mesmo uma casadegentedoida.

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